sábado, 14 de fevereiro de 2015

A Realidade da Sala de Aula


Nestes oito anos de magistério que possuo, não presenciei tanta coisa como meus colegas mais experientes, mas já participei, nas escolas em que trabalhei, de oito palestras com professores acadêmicos e escritores, pensadores da educação.
Resumindo todas, não passaram de palestras motivacionais cuja mensagem era a de que aos professores bastava a boa vontade e perseverança para que a sala de aula se transformasse num paraíso.
Não sei como essas pessoas podem ser levadas a sério por professores, muito menos entendo por que se cometem crimes ambientais para editar os livros que essa gente escreve.
Quando se fala em sala de aula, qual é a teoria empírica que abrange a totalidade dessa realidade? Tempo, espaço e objetos em sala de aula são termos corriqueiros na teorias de hoje. Porém, como se ter a audácia de definir algo que é indefinível por si próprio? Tempo, espaço e objeto são elementos simbólicos e concretos fabricados, utilizados e compreendidos pela mente humana, ou seja, estou a falar de seres humanos, totalmente indefiníveis.

Qual a teoria que abrange a totalidade dessa realidade?

Muitos professores aqui já tiveram quatro, cinco salas de uma mesma série e todas elas eram diferentes, o que exigia a complexa tarefa de um ser humano limitado, como o é o professor, se multiplicar em vários professores, já que cada sala exigia uma postura diferente.
No entanto, não termina aí. Cada sala dessa tem, no mínimo, oito professores e cada um deles é um ser complexo e indefinível. Portanto, a sala de aula se multiplicará, tendo estes números por base, ao menos em oito realidades. Pois se cada professor é um indivíduo com suas experiências, ideologias, personalidades, únicas, certamente a sala de aula terá uma recepção diferenciada para cada professor.
Mas ainda não termina por aí. Sabemos que o ser humano não segue um padrão de comportamento constante quando está num meio social múltiplo, simplificando, há dias em que temos uma postura diferenciada, professores e alunos mudam constantemente, o que faz com que a realidade numa sala de aula seja um universo infinito.
Nisto é que se dão os altos e baixos durante o ano letivo, o que é praticamente normal.
Entretanto, não termina aqui. A sala de aula é um universo infinito composto por outros vários universos, os alunos. Universos que fabricam outros universos, pois as relações que cada um tem com os outros são um mosaico infinitamente complexo e difícil de ser totalizado por qualquer área específica.
Isto, nenhum teórico foi nem será capaz de definir. Nem, com toda petulância acadêmica, será capaz de formular uma teoria didática que dê conta dessa infinidade de universos.

Um mosaico complexo e infinito
Defendo então que os professores se acomodem porque é assim mesmo e a realidade na sala de aula é realmente difícil? Pelo contrário, é esta consciência em relação à complexidade da sala de aula que faz com que devemos dar o melhor de nós em nosso dia-a-dia. Porém sem ilusão, pois a ilusão pode ser fonte de decepções e adoecimentos gratuitos.
É esta consciência que faz com que não possamos encarar o corpo discente como um corpo. O professor consciente não tratará seus alunos como uma massa que precisa ser moldada. O professor sério e consciente sabe do que é capaz e do que não é, ele sabe o que pode oferecer e o que não pode para cada um dos seus alunos.
A massificação é a base desses teóricos patéticos que se sustentam com o dinheiro público que financia estudos inúteis para os professores e para a complexidade da sala de aula.
Massificação refletida nestas metas de avaliação, como, por exemplo, as do governo de SP. O IDESP trata os alunos como uma massa para a irrelevante fabricação de números, mas eu quero que se danem esses números.
A escola deve focar o indivíduo e não  a massa
Mariazinha, a mudinha da sala, por conta de opressões em casa, tem medo de falar em público. Meta para essa aluna para o ano letivo: dizer bom dia a todos na escola, de forma natural.
Meta para Joãozinho, aquele que não abre o caderno e só dorme: fazê-lo sair de sua inércia, não com gramaticalidades ou fórmulas matemáticas, mas através de tarefas múltiplas, que ele saiba que ele é um ser que pode transformar tudo e a sua atitude exerce influência no meio social em que vive e influência nele mesmo.
Pedrinho, o CDF da sala: entender e sistematizar a teoria da relatividade de Einstein.
Posso estar sendo patético, mas acredito que a transformação da educação não passa pelo tratamento massificado que os alunos e nós, professores, recebemos. Enquanto não se focar o indivíduo, toda a discussão teórica em torno da educação é mera parafernália.


Um comentário:

  1. o que vemos é uma situação precária, para o aprendizado desse aluno que deve ser o foco!...abç prof.

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