segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Amor e Pós-modernidade: O Outro Como Fetiche

Na sociedade consumista, tudo tem o seu valor de usufruto e de troca e os produtos alçam-se ao patamar acima do ser humano. É o chamado fetichismo da mercadoria. As coisas não são um meio de nos proporcionar qualidade de vida e evolução pessoal, elas são um fim em si mesmas. Compra-se um carro não por necessidade de locomoção, mas por ser um objeto carregado de um simbolismo poderoso de realização existencial.

Compra-se um tênis não para melhor poder caminhar, mas pela sua etiqueta ser reflexo de status social. Compra-se uma bolsa de grife para que os outros reflitam nosso sucesso ao vêem que podemos adquiri-la, ela pouco serve para guardar as coisas. Neste processo, o humano perde sua característica singular e, quando não abaixo, está no mesmo nível das coisas comercializadas.


O Ser marginaliza-se e o Ter é o que nos define como indivíduos.Mas, além disso, o capitalismo precisa da rotatividade dos objetos. Sai um carro novo, um tênis novo, uma bolsa nova e corremos atrás destes novos objetos para atualizarmos o nosso status de vencedores por meio deles. Os objetos precisam se tornar efêmeros para que o consumismo prevaleça e que o indivíduo busque cada vez mais se preencher com esses objetos de validade pré-determinada.

As relações humanas não estão imunes a este processo de fetichismo e o amor, sentimento tão debatido, visto como um meio de ascensão do ser, entra na roda viva da efemeridade do consumo. O consumista está sempre insatisfeito, pois não se realiza enquanto ser, e as atitudes dessa insatisfação serão reproduzidas em suas relações pessoais e amoras. O outro não é visto como singular na relação, mas como um espelho que reflete as projeções do consumista. Finda-se a ética das relações e a pessoa é uma mercadoria cuja validade existe enquanto proporciona ao outro sentimentos de realização mercadológica. 

Não se ama o que o outro é, mas o status social e material que ele representa. Ele se torna então mero objeto de consumo, que tem em si um desgaste como um produto qualquer pronto a ser descartado e jogado no saco de lixo. A humanidade do outro é esvaziada e quando se quer compreendida se iguala a um computador cujas especificações técnicas estão ultrapassadas.

Vivemos numa modernidade de risco, tudo é assombroso, desde sair de casa à rua até as discussões entre Obama e Putin sobre quem melhor mente sobre a queda do avião. Por este sentimento de risco e medo nossas relações estão pautadas e buscamos uma zona de conforto a ponto de nos protegermos de qualquer ameaça exterior. 

Nas histórias românticas, o conceito de “viveram felizes para sempre” foi uma estratégia burguesa para a instituição do casamento como célula mantenedora das relações monetárias. Assim, uma massa de consumidores acredita que encontrar outra pessoa é fato para que todas as diversidades do mundo se esgotem, é o outro que dará um fim às nossas lutas interiores, é o outro que nos trará a felicidade plena e fará com que a vida se harmonize. Nada mais falacioso.

É preciso colocar o amor como um sentimento, antes de tudo, ético. É na humanização do outro que construiremos a nossa própria humanização. E no mergulhar da diferença do outro em relação a nós que abrangeremos nossa consciência e autoconhecimento. O outro é o contraste de nós que nos encaminha para o entendimento da própria existência. O ideal é conhecer e compreender o que o outro tem de diferente de nós, qualidades, “defeitos”, inseguranças, medos, etc. Com isso, não vemos o outro como um objeto de consumo sobre o qual temos o poder de uso. 

Quando o outro revela algo fora das nossas projeções e não o tratamos como fetiche mercadológico, estamos diante de uma experiência humanizadora, estamos potencializados a encarar o amor real e não o romântico egoísta piegas. O amor puro e humanizado fica posto na igualdade de dedicação e de recebimento emocional. Assim, ao estarmos abertos para com o outro seja para o entendimento de autonomia seja na compreensão de suas fragilidades, estamos fazendo do amor mais do que uma mercadoria de status, mas uma experiência única capaz de entendermos nossa localização no mundo e no mundo do outro, assim como também somos capazes de amar o outro como um ser em si.


PS: Indicação de Leitura: O Amor Líquido, de Zygmunt Bauman.

3 comentários:

  1. É sempre assim, entra mês, sai mês, de repente, " nossa já é natal!!, Feliz Ano Novo !! e la se vai mais um ano, e normalmente escuto as pessoas dizerem que o ano passou rápido, que parece que cada vez passa mais rápido ainda, enfim também me questiono sobre isso, hoje é tudo tao automatizado, tao corrido, tao vazio, as pessoas na sua maioria jovens andam cabisbaixas de olho no seu Smartphone, conferindo suas redes sociais, buscando o que me parece em algumas pessoas a satisfação de um vicio, o vicio de ser reconhecido de aparecer de buscar nos outros o que não se tem, de tentar mostrar que existe, na verdade não é o tempo que esta passando rápido mais sim nos que não damos o verdadeiro valor ao tempo, a sociedade busca tanto o comprar, ter, ser, parecendo cavalos com "tapa" para que não enxerguem o que acontece a sua volta e assim não se assustem.
    A "tapa" só é colocada por que antes disso foi colocada a sela e o cabresto, e o capital dita a direção da tropa.
    Busca-se tanto bens materiais e prestigio, que o respeito, a sinceridade e o amor ficam ofuscados pelo brilho do ouro.

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  2. Concordo. Ama-se o outro até o momento que outros fatores surjam mais lucrativos e finde este "amor" no prejuízo de valores cada vez mais ignorados.

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