Na sociedade consumista, tudo tem o seu valor de
usufruto e de troca e os produtos alçam-se ao patamar acima do ser humano. É o
chamado fetichismo da mercadoria. As coisas não são um meio de nos proporcionar
qualidade de vida e evolução pessoal, elas são um fim em si
mesmas. Compra-se um carro não por necessidade de locomoção, mas por ser um
objeto carregado de um simbolismo poderoso de realização existencial.
Compra-se um tênis não para melhor poder caminhar, mas pela sua etiqueta
ser reflexo de status social. Compra-se uma bolsa de grife para que os outros
reflitam nosso sucesso ao vêem que podemos adquiri-la, ela pouco serve para
guardar as coisas. Neste
processo, o humano perde sua característica singular e, quando não abaixo, está
no mesmo nível das coisas comercializadas.
O Ser marginaliza-se e o Ter é o que nos define como indivíduos.Mas,
além disso, o capitalismo precisa da rotatividade dos objetos. Sai um carro
novo, um tênis novo, uma bolsa nova e corremos atrás destes novos objetos para
atualizarmos o nosso status de vencedores por meio deles. Os objetos precisam
se tornar efêmeros para que o consumismo prevaleça e que o indivíduo busque
cada vez mais se preencher com esses objetos de validade pré-determinada.
As relações humanas não estão imunes a este
processo de fetichismo e o amor, sentimento tão debatido, visto como um meio de
ascensão do ser, entra na roda viva da efemeridade do consumo. O consumista
está sempre insatisfeito, pois não se realiza enquanto ser, e as atitudes dessa
insatisfação serão reproduzidas em suas relações pessoais e amoras. O outro não
é visto como singular na relação, mas como um espelho que reflete as projeções
do consumista. Finda-se a ética das relações e a pessoa é uma mercadoria cuja
validade existe enquanto proporciona ao outro sentimentos de realização
mercadológica.
Não se ama o que o outro é, mas o status social e
material que ele representa. Ele se torna então mero objeto de consumo, que tem
em si um desgaste como um produto qualquer pronto a ser descartado e jogado no
saco de lixo. A humanidade do outro é esvaziada e quando se quer compreendida
se iguala a um computador cujas especificações técnicas estão ultrapassadas.
Vivemos numa modernidade de risco, tudo é
assombroso, desde sair de casa à rua até as discussões entre Obama e Putin
sobre quem melhor mente sobre a queda do avião. Por este sentimento de risco e
medo nossas relações estão pautadas e buscamos uma zona de conforto a ponto de
nos protegermos de qualquer ameaça exterior.
Nas histórias românticas, o conceito de “viveram
felizes para sempre” foi uma estratégia burguesa para a instituição do
casamento como célula mantenedora das relações monetárias. Assim, uma massa de
consumidores acredita que encontrar outra pessoa é fato para que todas as
diversidades do mundo se esgotem, é o outro que dará um fim às nossas lutas
interiores, é o outro que nos trará a felicidade plena e fará com que a vida se
harmonize. Nada mais falacioso.
É preciso colocar o amor como um sentimento, antes
de tudo, ético. É na humanização do outro que construiremos a nossa própria
humanização. E no mergulhar da diferença do outro em relação a nós que
abrangeremos nossa consciência e autoconhecimento. O outro é o contraste de nós
que nos encaminha para o entendimento da própria existência. O ideal é conhecer
e compreender o que o outro tem de diferente de nós, qualidades, “defeitos”,
inseguranças, medos, etc. Com isso, não vemos o outro como um objeto de consumo
sobre o qual temos o poder de uso.
Quando o outro revela algo fora das nossas
projeções e não o tratamos como fetiche mercadológico, estamos diante de uma
experiência humanizadora, estamos potencializados a encarar o amor real e não o
romântico egoísta piegas. O amor puro e humanizado fica posto na igualdade de
dedicação e de recebimento emocional. Assim, ao estarmos abertos para com o
outro seja para o entendimento de autonomia seja na compreensão de suas
fragilidades, estamos fazendo do amor mais do que uma mercadoria de status, mas
uma experiência única capaz de entendermos nossa localização no mundo e no
mundo do outro, assim como também somos capazes de amar o outro como um ser em
si.
PS: Indicação de Leitura: O Amor Líquido, de Zygmunt Bauman.
Perfeito!
ResponderExcluirÉ sempre assim, entra mês, sai mês, de repente, " nossa já é natal!!, Feliz Ano Novo !! e la se vai mais um ano, e normalmente escuto as pessoas dizerem que o ano passou rápido, que parece que cada vez passa mais rápido ainda, enfim também me questiono sobre isso, hoje é tudo tao automatizado, tao corrido, tao vazio, as pessoas na sua maioria jovens andam cabisbaixas de olho no seu Smartphone, conferindo suas redes sociais, buscando o que me parece em algumas pessoas a satisfação de um vicio, o vicio de ser reconhecido de aparecer de buscar nos outros o que não se tem, de tentar mostrar que existe, na verdade não é o tempo que esta passando rápido mais sim nos que não damos o verdadeiro valor ao tempo, a sociedade busca tanto o comprar, ter, ser, parecendo cavalos com "tapa" para que não enxerguem o que acontece a sua volta e assim não se assustem.
ResponderExcluirA "tapa" só é colocada por que antes disso foi colocada a sela e o cabresto, e o capital dita a direção da tropa.
Busca-se tanto bens materiais e prestigio, que o respeito, a sinceridade e o amor ficam ofuscados pelo brilho do ouro.
Concordo. Ama-se o outro até o momento que outros fatores surjam mais lucrativos e finde este "amor" no prejuízo de valores cada vez mais ignorados.
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