Juan Pablo Castel é um pintor assassino, “o pintor que matou Maria Iribane”, confessa ele, já no início do romance. O elo entre os dois personagens é um quadro ou, mais especificamente, um detalhe do quadro, mas Castel, que se coloca como incompreendido, mata, em seu dizer, a única pessoa capaz de o entender.
É por meio deste crime que Ernesto Sabato constrói um monólogo em torno das mazelas humanas do pós-guerra.
De cunho existencialista, o romance reflete sobre um indivíduo frente a um mundo onde o deslocamento é a condição vigente e as ações são as conseqüências dessa confusão do ser que se depara diante do absurdo e da vida sem sentido.
E o que poderia preencher este vazio existencial, fazer com que a existência ganhasse um sentido? O Amor, diria alguns.
Ora, é na racionalidade que se encontra a incapacidade do Amor prevalecer em nossa era. Obsessivo ao extremo, Castel não vê beleza e inspiração nos mistérios de Maria, apenas tenta racionalizar, encontrar os porquês das ações desencontradas de sua expectativa. Atitude paradoxal para um artista.
No entanto, de paradoxos é o que o romance trata. Se o pintor consegue expressar-se em seus quadros, se há em seus quadros a janelinha que se abre para o olhar do outro, na vida real esta comunicação se torna impossível:
“Eu amava Maria desesperadamente e no entanto a palavra amor não fora pronunciada entre nós”.
E aqui podemos fazer um paralelo com a Literatura: Ernesto Sabato intenta a reflexão também sobre o papel da arte e do artista neste mundo. Basta a arte ser o refúgio dos deslocados? A beleza do ser humano é apenas um elemento, uma janelinha, a ser inscrito nos detalhes de uma obra? De que adianta termos um olhar aprofundado para o nosso interior se não conseguirmos olhar para o exterior da mesma forma?
Em seu livro A Resistência, Sabato diz que “o homem será salvo pelo afeto”. O egocentrismo de Castel, seu desprezo pelos outros, seu isolamento dentro de seu túnel, é a condição em que se encontra a sociedade e nisto é que ocorre o esfarelar de nossos elos, o fechamento de nossas janelas aos que se sintonizam com os nossos olhares. Não é destes seres que a sociedade necessita. É apenas numa sociedade em que nosso olhar seja afetuoso e se disponha a compreensão da alma alheia que se fará o término de parte de nossas infelicidades.
Numa época em que as pessoas se isolam em seus computadores, abrindo pequenas janelas nas páginas das redes sociais, O Túnel vem a demonstrar que, mesmo depois de 64 anos, é um romance atual.
Boa noite. meu Mestre . . Parabéns por seu Blog, fico feliz em poder estar sempre presente em suas publicações . Eu me espelho sempre ti . .ABraços e todo o sucesso deste mundo. Rick Gomez
ResponderExcluirA coragem nos dá presentes! Como o seu Blog que acompanharei com carinho e atenção, parabéns e sucesso! Um abração Professor :)
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